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ENTREVISTA: A Mobilidade Limpa na América Latina.


Apresentação da Zona Verde, em Santiago, que vai contar com ônibus e táxis elétricos, e privilegiar deslocamentos a pé. Cidade sediou evento da CEPAL sobre clima, poluição e mobilidade.

Comparar o Brasil a países da Europa, Ásia e América do Norte no quesito mobilidade urbana limpa pode ser até covardia, diante das poucas iniciativas do poder público brasileiro para estimular os deslocamentos não motorizados, por sistemas de trilhos e com ônibus menos poluentes.

Entretanto se a comparação for feita com os países vizinhos, neste quesito o Brasil também está em desvantagem.

Nos últimos dias 02 e 03 de maio, a CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, realizou em Santiago, no Chile, o seminário sobre Mudanças do Clima, Governança e Mobilidade.

O evento foi uma oportunidade para discutir as necessidades de novas intervenções urbanas e modernização nas redes de transportes em toda América Latina para que o meio ambiente seja respeitado, melhorando assim a qualidade de vida nas cidades.

Um dos participantes foi o diretor der relações governamentais da BYD no Brasil e ex-diretor da Rede C40 no País (grupo das maiores cidades do mundo líderes no tema das mudanças climáticas).

Por e-mail, Adalberto Maluf concedeu uma entrevista exclusiva ao Blog Ponto de Ônibus e contou sobre as principais novidades a respeito da mobilidade na América Latina debatidas no evento. Foi possível traçar um perfil sobre os avanços e necessidades para que as cidades ofereçam melhores condições de vida.

Apesar das conquistas do Brasil, o país ainda está atrás de iniciativas de outros governos da região.

“Colômbia, Uruguai e agora o Chile estão liderando a agenda da mobilidade sustentável. Aqui no Chile, foi lançada nesta semana a Zona Verde, um projeto de que prioriza o uso de veículos elétricos, bicicletas e pedestres no centro histórico da cidade. Eles [chilenos] terão ônibus elétricos (da BYD) gratuitos rodando pelo centro como medida para reduzir emissões” – disse.

O especialista vê como fundamental a maior participação do poder público para estimular a ampliação da frota de ônibus não poluentes no Brasil.

“Existe, ainda, um grande desconhecimento dos operadores de ônibus privados sobre as vantagens do uso dos ônibus elétricos. Operadores tradicionais são avessos a riscos e como estão acostumados com ônibus diesel há décadas, eles dificilmente farão a transição aos elétricos se não houver pressão dos governos. Muitas das cidades ainda não aperfeiçoaram as regras de concessão para permitir o uso dos elétricos, uma vez que o modelo de remuneração das tarifas, atualmente, não privilegia a redução de custos e o uso de modelos mais eficientes.”

No seminário da CEPAL foram relacionadas soluções que com baixo custo e de maneira rápida podem melhorar as condições de mobilidade no transporte público. As faixas de ônibus em São Paulo, cuja ampliação ocorreu na gestão do prefeito Fernando Haddad, foram destaques que receberam menções positivas no evento.

Adalberto Maluf também disse que as encarroçadoras de ônibus no Brasil já finalizam modelos para os chassis de ônibus elétricos da BYD. A empresa de origem chinesa deve fabricar a partir de junho de 2016 seis modelos de chassis elétricos urbanos, como chassis para micro-ônibus (7m e 8m), urbanos básicos (12,5m), Padron (13,2m e 15m) bem como articulados (18,5m) tanto piso baixo quanto piso alto para BRT.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Ônibus elétricos na Zona Verde, que compreende o Centro Histórico de Santiago, não terão cobrança de tarifa.

Blog Ponto de Ônibus: Nos dias 02 e 03 de maio, foi realizada pela CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, em Santiago, no Chile o seminário sobre Mudanças do Clima, Governança e Mobilidade. De acordo com os debates que o senhor participou e também assistiu, como está a questão dos transportes não poluentes na região? O que precisa avançar e quais foram as principais conquistas até agora?

Adalberto Mafluf: A Mobilidade urbana sustentável está relacionada em 15 dos 17 objetivos do milênio da ONU. Foram debatidas muitas ações relacionadas ao desenvolvimento urbano, racionalizar o uso dos veículos privados e priorizar pedestres e o transporte não motorizado, bem como iniciativas para qualificar o transporte público, reduzir a poluição e melhorar a qualidade de vida. Os especialistas de todo o mundo foram unânimes em dizer que a mobilidade elétrica é a maneira mais rápida e eficiente de reduzir emissões de poluentes locais e globais (CO2), ao mesmo em que melhoramos a qualidade do transporte público da região e de vida da população. Pelo mundo, já são mais de 250 cidades que tem veículos elétricos operando no transporte público (sendo cerca de 200 com veículos BYD), mas a América Latina ainda não entrou nessa nova onda global.

Blog Ponto de Ônibus: Quais dos exemplos dos nossos países vizinhos que mais te chamaram a atenção e destes, quais podem ser aplicados já em curto prazo no Brasil?

Adalberto Mafluf: Colômbia, Uruguai e agora o Chile estão liderando a agenda da mobilidade sustentável. Aqui no Chile, foi lançada nesta semana a Zona Verde, um projeto de que prioriza o uso de veículos elétricos, bicicletas e pedestres no centro histórico da cidade. Eles terão ônibus elétricos (da BYD) gratuitos rodando pelo centro como medida para reduzir emissões, assim como táxis (também da BYD) e no futuro outros veículos usados pelo governo nessa área central. Eles foram os primeiros a fazer um NAMA (Nationally Appropriate Mitigation Actions) que são as ações do governo assumidas nos compromissos da ONU em mobilidade elétrica e a expectativa deles é colocar incentivos para os ônibus elétricos na licitação do Transantiago, que se inicia no final de 2016. Santiago está junto com a cidade do México e o Rio de Janeiro como as três cidades com maiores concentrações de material particulado (segundo a CEPAL, com índices três vezes maiores que o limite da OMS – Organização Mundial de Saúde), assim, os governos chilenos estão tomando ações cada mais radicais para reduzir a emissão de poluentes.


Blog Ponto de Ônibus: Quais são os problemas e as dificuldades encontrados tanto no Brasil como nos países vizinhos e quais são os problemas especificamente do Brasil para que a frota de veículos elétricos não seja maior?

Adalberto Mafluf: Existe, ainda, um grande desconhecimento dos operadores de ônibus privados sobre as vantagens do uso dos ônibus elétricos. Operadores tradicionais são avessos às riscos e como estão acostumados com ônibus diesel há décadas, eles dificilmente farão a transição aos elétricos se não houver pressão dos governos. Muitas das cidades ainda não aperfeiçoaram as regras de concessão para permitir o uso dos elétricos, uma vez que o modelo de remuneração das tarifas, atualmente, não privilegia a redução de custos e o uso de modelos mais eficientes. Os ônibus elétricos podem ser mais baratos em 10 anos de operação se comparados com o diesel, porém devem ter sua vida útil estendida, como São Paulo, Porto Alegre e outras cidades estão propondo. Como não tem emissão de poluentes e um menor custo de manutenção, os elétricos deveriam poder rodar por mais tempo do que os diesel. Atualmente, é vantajoso para o operador renovar sua frota com 3 a 5 anos para não ter aumento nos custos de manutenção, o que dificulta o uso dos elétricos que precisam de maior tempo de operação para se pagarem.


Blog Ponto de Ônibus: Os sistemas BRT -Bus Rapid Transit são soluções de mobilidade urbana utilizadas em todo mundo. No entanto, no Brasil por mais que se amplie o número de corredores, estas estruturas ainda não contam com uma frota de ônibus não poluentes, como os elétricos puros à bateria e os trólebus. Como está este cenário dos BRTs e a mobilidade limpa nos demais países da região?

Adalberto Mafluf: A América Latina vive um processo de aumento da frota e do uso dos veículos particulares nas médias e grandes cidades. Então precisamos melhorar a qualidade dos ônibus e dar preferência a eles no viário para poder manter e quem sabe atrair mais passageiros ao sistema. Debateu-se muito na CEPAL sobre os ganhos que as faixas, corredores de ônibus e BRT já estão fazendo nas grandes cidades, desde medidas simples como as simples faixas de ônibus de São Paulo (exaltadas aqui como uma ótima solução pelo seu baixo custo) bem como a construção de corredores completos (BRT) com tecnologias de baixo carbono. Muitas cidades na Ásia, EUA e Europa já estão incorporando ônibus elétricos no BRT (E-BRT) para reduzir a emissão de poluentes e atrair passageiros ao sistema. Esse processo parece ser algo sem volta na visão de todos aqui. Conforme dito aqui, a América Latina está investindo muito em BRT, mas precisa agregar os elétricos pois eles seriam a “quick win”, ou vitória rápida para melhorar os sistemas. Eu pessoalmente me surpreendi com a apresentação da CEREMA (Governo Francês) que mesmo na França, berço dos bondes e VLT modernos, a maior parte das cidades está construindo BHNS (Bus à Haut Niveau de Service, ou os Sistemas de ônibus com alta qualidade) ao invés de soluções metroviárias. Na França somente existem 6 cidades com metrôs e com a crise, nenhum projeto de ampliação avança. Em Paris, por exemplo, a meta agora é ter 80% dos ônibus elétricos em 2020. Parece-me que os elétricos são um processo sem volta não somente na Europa como em todo o mundo desenvolvido.

Blog Ponto de Ônibus: Neste ano a BYD concluiu a instalação de uma planta em Campinas, no interior de São Paulo, já para montagem de ônibus elétricos. Qual potencial que empresa vê na América Latina para estes veículos? Os resultados serão em curto ou médio prazo? Além do Brasil, quais são os países que mais podem adquirir os ônibus elétricos da marca?

Adalberto Maluf: O primeiro ano de nossa fábrica em Campinas se concentrou no desenvolvimento de fornecedores locais, na finalização de cerca de 20 ônibus completos de diversos modelos para abrir o mercado com testes e protótipos. Desde janeiro desse ano, a linha de montagem sofre uma mudança para receber as máquinas para fabricação exclusiva de chassis, uma vez que as encarroçadoras já estão com os projetos de carrocerias quase prontos a ofertar no mercado. Assim, já em junho de 2016 devemos inaugurar essa segunda fase de nossa planta que prevê a fabricação exclusiva de 6 modelos de chassis elétricos urbanos, como chassis para micro-ônibus (7m e 8m), urbanos básicos (12,5m), Padron (13,2m e 15m) bem como articulados (18,5m) tanto piso baixo quanto piso alto para BRT. Com a aprovação dos nossos modelos em muitas agências públicas como SPTRANS – São Paulo, EMDEC – Campinas, URBS – Curitiba e outras, em poucos meses devemos começar a entregar os primeiros chassis já fabricados no Brasil para serem encarroçados pelas nossas parceiras locais. E o mercado na América Latina deve crescer no curto prazo quando estivermos com todos esses modelos em produção, uma vez que o custo de energia na América Latina é bem baixo em comparação ao preço do diesel, e com matriz de geração de energia limpa (hídrica e recentemente de renováveis), assim acreditamos muito no potencial desses mercados.


Fonte: https://blogpontodeonibus.wordpress.com/2016/05/06/entrevista-a-mobilidade-limpa-na-america-latina/

Equipe OnibusMSC



















 
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